A sociedade está se redesenhando nas redes sociais. E agora?

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Jan 19, 2012
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A sociedade se redesenha nas redes sociais, levantando questões sobre poder e confiança nas plataformas digitais.
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As redes sociais e outros mecanismos de comunicação digital estão cada vez mais deixando de ser playgrounds  de entretenimento de social para se converterem no que Nicholas Negroponte chama de "o novo DNA da sociedade". Sem sentir uma conexão e resposta com os governos nacionais, as novas gerações estão começando a criar virtualmente estruturas que, se ão devem substituir or governos num futuro próximo, vão passar a ocupar esferas de poder que os governos não ocupam ou ocupam mal. E se o Facebook e o Twitter estão virando a nova ágora, o que se faz agora?
Essa talvez não seja uma questão pertinente ainda, porque parece seguro dizer que ainda há um tempo até que as estruturas de redes sociais possam acumular poder a ponto de confrontar governos. No máximo, ela já consegue causar transtornos (como Muammar Gaddafi certamente poderia testemunhar), mas no futuro, organizações importantes estarão montadas em cima de propriedades de companhias como o Facebook e o Twitter (além da economiaconcreta que esses ambientes virtuais já geram, vide o faturamento de inúmeras companhias que é baseado em ações na esfera das redes.
Duas questões aqui: primeiro, fica claro que, mesmo nas democracias tradicionais, o divórcio entre a opinião pública e o governo só aumenta. Sempre, o poder econômico cabrestou o governo, mas especialmente na primeira década deste milênio, nenhum limite sobrou. Corporações passaram a fazer absolutamente qualquer coisa para aumentar seus faturamentos de colossais para inimagináveis, ignorando qualquer coisa, desde o meio-ambiente até a devastação da economia, onde roubos globais como os do Lehman Brothers ajudaram a sumir com parte considerável de uma economia que não existia, mas sobre as quais o sustento de centenas de milhões de pessoas estavam calcadas. Depois que 35% da economia americana deixou de existir graças à farra de títulos podres que geraram lucros astronômicos  para os bancos e zero pessoas foram punidas, a população americana, sempre orgulhosa de sua "democracia", se deram conta de que não poderiam contar com o governo e começaram a se mobilizar - como aliás já tinham feito tunisianos, egípcios, líbios , iranianos e agora fazem os sírios.
A segunda observação é: seria possível confiar a substituição de parte importante da sociedade civil, como esse DNA mencionado por Negroponte, a meia dúzia (se tanto) de empresas? O Facebook vai garantir que o espaço que ele oferece vá  manter a ordem social que uma sociedade necessita? E o Google vai garantir a lisura dos mercados que se determinarem por meio de seu logaritmo de busca? O Twitter vai assegurar que não censurará movimentos que não estejam em sintonia com os dos seus acionistas (especialmente esses acionistas sendo do "berço da democracia", a Arábia Saudita)?
Os governos nacionais parecem ter se desgastado enquanto modelos de representação democrática por uma série de razões. Necessidade de financiamento de campanhas, aparelhamento de máquinas estatais, suscetibilidade às tentações milionárias de lobistas e corruptores e pura vocação para a corrupção são algumas delas. Hoje, os ambientes virtuais, em alguns casos, ofecerem mais garantias para o cidadão conseguir seus direitos do que  os mecanismos oficiais (quem já tentou reclamar da operadora de telefonia no procon e pelas redes sociais sabe que a chance de ser atendido nas redes é consideravelmente maior). O movimento da sociedade para recriar o espaço público nessa esfera virtual é uma conseqüência do fracasso do Estado em desempenhar as funções que deveria desempenhar.
Mas até quando a balança penderá para este lado? A máquina de ganhar dinheiro das empresas de Internet é a venda de detalhes de seus usuários. Saber em que momento os termos de serviços dessas companhias serão ou não alterados para atender às necessidades da sociedade é muito difícil. E o desenho do DNA dessa nova sociedade se mostra ainda num estágio mais que embrionário e cujo fim pode estar incluindo uma série de crises e convulsões como outras que a história já mostrou. Esses espaços públicos virtuais não são públicos e sim, privados. Se a sociedade quer mesmo estabelecer instituições neles, precisa ter garantias que suas liberdades não vão ser levadas embora de uma hora para outra.

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