Snapchat: novo Facebook ou vigarista digital?
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Jun 3, 2016
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Snapchat
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Snapchat: A Nova Bolha Financeira ou um Modelo de Vigarice Digital?
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Se períodos de alta (ou altíssima) especulação financeira em cima de produtos que não dão lucro sinalizam uma bolha financeira chegando, então temos uma maciça por aí e o Snapchat ergue a bandeira. Com faturamento zero até 2014, a plataforma chegou a uma avaliação de US$20 bilhões e já levantou quase 10% disso em investimento. A pergunta é: por que uma start-up que tem tão pouca receita consegue receber tanta grana de investidores? Estamos diante de um novo Facebook, de um novo Twitter, ou do modelo mais claro de vigarice digital da bolha de tecnologia?
Apesar de 5 anos mais novo que o Twitter, o Snapchat já ultrapassou a quantidade de usuários ativos da rede social de Biz Stone e Jack Dorsey. Em maio, o Snap teve 150 milhões de pessoas logando no seu app contra 140 milhões do Twitter. Com cinco anos a menos de vida, a curva de crescimento de usuários (e usuários ativos, que é ainda mais relevante), o negócio já convenceu seus investidores (gente que entende do riscado) a botar US$1.8 bilhão na brincadeira.
Se você tem mais de 30 anos, provavelmente, em seu primeiro contato com o Snapchat, ficou achando que aquilo era coisa de débil mental. O app é pouco intuitivo mesmo para pessoas digitalmente entranhadas. Seu design é confuso (um re-shape de design e usabilidade está em curso) e é difícil traçar paralelos no seu uso até com o Twitter, por exemplo. Não se sinta mal nem intolerante. O digital encolheu as gerações e agora, um período de cinco anos já basta para uma de-sincronização geracional. Que torna uma diferença de um ano no equivalente a uma década Este vídeo do David Pogue vai explicar o Snap para você.
E como uma empresa com um faturamento relativamente pequeno (previsão de um quarto de bilhão de dólares neste ano) pode valer tanto?
Em uma palavra: crescimento.
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Em 2014, o Snapchat tinha 60% menos usuários que tem hoje e faturava zero. A previsão do mercado é de que o fantasminha arrecade 400% a mais em 2017. Como o app expandiu de uma rede que era pura egotrip (onde você se publicava para amigos) para um player de mídia com privacidade, as possibilidades de expansão são diversas, indo de tráfego a projetos customizados. Os melhores e maiores publishers de mídia digital entraram na plataforma e isso é uma máquina de fazer dinheiro. Ou melhor: pode vir a ser uma.
Com cerca de 10 bilhões de video streams por dia, o Snapchat já tirou Twitter e Tumblr do caminho e criou um campeonato de primeira divisão com Facebook e Instagram. A efemeridade da proposta (conteúdos que somem sem deixar marca) e a crescente cultura do ego nas gerações mais novas tornam o perfil do Snapchat o mais propício para crescimento. O Snap mata os concorrentes na faixa de 18-34 anos e esse é o filé mignon da audiência: consome muito, rápido e sem pensar.
Há um outro fator importante: vídeo é a mídia que atinge os melhores preços entre anunciantes. A explosão do consumo de vídeo possibilitada pelas melhorias da transmissão de dados no celular, jogou rios de dinheiro no mercado, razão pela qual YouTube e Facebook tenham posições tão vantajosas no momento.
Contudo, por mais expectativa que o Snapchat gere no momento, ele não é necessariamente a última bolacha do pacote. A concorrência nas redes sociais é extremamente volátil. Depois ou três anos podem explodir ou implodir uma ferramenta. A taxa de adesão de uma rede social é profundamente ligada com comportamentos de uso e cultura e esses são incontroláveis. Em 5 anos, o Snapchat pode ter perdido seu espaço para um concorrente que ainda não nasceu.
Além da incontrolabilidade comportamental e processo de inovação velocíssimo, há um elemento negocial que é relevante. Empresas que passam muito tempo sem se preocupar em dar lucro tendem a jamais conseguir fazê-lo. A cultura da empresa tende a solidificar valores que depois não se dissolvem. Se buscar lucro é algo em segundo plano nos primeiros anos da empresa, algum tipo de trauma teria de ser criado para reverter a tendência. Há exemplos disso, especialmente em tecnologia (os sacrossanto Facebook é um deles), mas a regra não é essa (leia a obra do professor Clayton Christensen sobre inovação para saber mais sobre cultura corporativa e inovação). O Vale do Silício e Wall Street têm uma relação pouco saudável no que refere a crescimento e sustentabilidade e definitivamente o SC é promissor, mas não seguro.
Também não é provável que a empresa entre na bolsa de valores agora. O frenesi de IPOs de empresas de tecnologia acabou. Ninguém crava, mas há uma sensação generalizada de que as avaliações de empresas pré-IPO têm números fora da realidade. Além disso, apesar do crescimento fantástico e das precisões de US$1 bilhão de faturamento para 2017, o modelo de negócios do Snapchat ainda não está maduro, segundo analistas. Com os quase R$7 bilhões levantados em investimento, a empresa definitivamente não precisará de investimentos no curto prazo.
A companhia está fazendo uma gerência bem adequada dos recursos. Tem feito as aquisições corretas, conseguiu atrair companhias de mídia interessantes para a plataforma, não tem medo de mudar o que não é bom (o suposto redesenho do app sugere isso) e tem dinheiro suficiente para aguardar alguns anos até virar uma companhia lucrativa. Sua solidificação é péssima para o Twitter. Não há espaço para duas plataformas de ponta num nicho tão similar. Há um ambiente bom o suficiente para um crescimento grande, mas não é uma jogada certa.
Além de simbolizar a primeira "cisão" geracional ocorrida no universo de usuários nascidos no digital (não parece que Facebookers e Twitterers com mais de 30 venham a pegar gosto pela ferramenta), o Snapchat é a primeira rede social cuja curva de crescimento pode vir a se chocar com a do Facebook no médio prazo. De primeira, o Snap parece com uma ferramenta que vá se integrar ao portfólio de um gigante de tecnologia, mas hoje, ainda trabalhando com possibilidades, ele pode almejar mais do que isso - desde que não surja um "disruptor" nos próximos três anos. O mercado das redes sociais permite ascensões estratosféricas e quedas fantásticas.
Foto por: Margaux-Marguerite Duquesnoy