O que a queda do crescimento do Twitter quer dizer

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Mar 12, 2014
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O crescimento do Twitter diminui, mas a plataforma amadurece e se consolida como uma mídia digital globalmente difundida, atraindo usuários engajados e oferecendo novas oportunidades para anunciantes.
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E o crescimento do Twitter está caindo. Sim, é uma frase esquizofrênica em si só, porque alinhada com as expectativas desgovernadas de um capitalismo disfuncional. Contudo, a redução do passo do Twitter não é um sinal ruim para seus usuários e não deveria ser nem para investidores ou para o mercado como um todo. A desaceleração tem mais a ver com a maturidade da plataforma do que com um enfraquecimento da mesma (que sob o ponto de vista operacional é muito sólida. O equilíbrio do Twitter tem mais a ver com velocidade de cruzeiro do que com colapso nos motores. E essa não é o único ponto positivo do cenário.
Em economia, índices de crescimento de dois dígitos ou mais normalmente significam duas coisas: ou trata-se de uma bolha localizada ou o crescimento é porque o ponto de partida era zero (exemplo: países que têm suas economias devastadas por guerra civil, encerrada a guerra, apresentam crescimentos de 20%, 30% ou mais - mas ainda estão na miséria). Empresas que crescem muito rapidamente, fora do setor de tecnologia, também costumam ter problemas por conta de restrições que nem sempre são manejáveis - logística, fornecimento de matéria-prima, contratação de mão-de-obra especializada, etc.
No campo das redes sociais bem-sucedidas, crescimentos de padrão epidêmico são comuns. Isso por conta da facilidade que as empresas têm em viabilizar essas ampliações em escala exponencial. Por conta disso, planos de negócios de empresas ligadas à tecnologia frequentemente sugerem valores surreais para o futuro. Infelizmente, também costumam ser imensos castelos de areia.
O Twitter não parece-se nem um pouco com este caso. A rede social não teve um crescimento semelhante ao do Facebook. Entre 2006 e 2009, a curva era bastante conservadora, aumentando consideravelmente na metade de 2009 e depois de 2012 em diante. O IPO do ano passado  foi atrasado muito provavelmente levando em consideração que essa ampliação na base de usuários podia potencializar o valor da empresa em questão de meses.
Contudo, como fica claro no gráfico abaixo, o ritmo do crescimento vem diminuindo (perceba - o Twitter ainda está adquirindo 135 mil usuários por dia - só diminuiu o ritmo de seu avanço). Sob a perspectiva de um mercado que supõe possível se crescer infinitamente, talvez o Twitter pareça um pouco esmaecido. Mas já são quase 700 milhões de contas, 200 milhões delas logando pelo menos uma vez por mês, gerando quase 10 mil tweets por segundo.
Hoje, o Twitter é a plataforma de mídias digitais mais difusa do mundo, perdendo no ambiente de social somente para o mastodôntico Facebook. Mas o Twitter tem duas vantagens que são absolutamente decisivas no seu posicionamento. Primeiro, que teve um IPO muito menos agressivo e tem uma necessidade mais razoável de buscar novas receitas. Segundo que, apesar de uma base de usuários menor, tem um perfil médio que é mais maduro, mais letrado e mais apto a produzir conteúdo que gere interesse para atrair audiência de outras mídias além de se posicionar como uma mídia intermedia, ou seja, que pode ser usada como ferramenta por outras companhias de mídia na geração de tráfego e receita. Um grande exemplo é o feature que o Twitter apresentou permitindo a inclusão de vídeos dentro dos tweets, já carregando ads (nativos ou não).
Um problema que era o drama original do Twitter, o de geração de receita, parece mais que superado. Nos últimos quatro anos a empresa multiplicou sua receita por 10 sem ter sacrificado a experiência do usuário nem ter nebulosidade sobre como o conteúdo circulando nos seus 60 milhões de tweets diários se replica para as audiências (um problema que o Facebook cada vez mais vem enfrentando).
A desaceleração do crescimento do Twitter é, sob o ponto de vista do produto e da experiência, um acontecimento esperado e até desejado. Houve uma mudança no perfil. O Twitter não é mais uma ferramenta dependente dos early adopters, embora poucos deles tenham abandonado suas contas. O cálculo da EMarketer é que até 2016, um quarto dos usuários de Internet do mundo entre 12 e 44 anos tenham sua conta no microblog e a acessarão pelo menos uma vez ao mês. Essa diminuição no crescimento na verdade não deve nem sumir - a base do Twitter deve deixar de crescer em dois dígitos no ano que vem e passar pouco dos 5% em 2018.
A base de usuários mais madura é, na verdade, um grande atrativo que a empresa tem para vender para seus anunciantes porque trata-se de um mercado com maior poder aquisitivo e que gera mais engajamento, mas que não está alienando audiências mais jovens com alterações na experiência (que vão desde a quantidade e agressividade dos anúncios até o controle possível do público que cada usuário tem. A base de usuários tende a maturar e continuar na ferramenta por conta do modo como os usuários interagem uns com os outros.
No longo prazo, caso a empresa tenha pulso firme o suficiente para impedir que a sede dos acionistas por lucros imediatos comprometam a experiência dada aos usuários, os desenvolvimentos tecnológicos, a maturação da sua base de usuários e a criação de novos instrumentos dentro da própria ferramenta apontam para um futuro seguro. Mesmo num nicho cuja velocidade de desenvolvimento é frenética e a evolução dos produtos é um tiro no escuro, o passarinho azul parece estar voando em céu de brigadeiro.

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