Disputa teórica dificulta novos formatos de jornalismo

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Feb 7, 2013
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Disputa teórica sobre o futuro do jornalismo dificulta novos formatos e modelos de negócio.
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Não há jornalismo sem jornalistas. A máxima parece óbvia, mas não é. Em particular para dois grupos: professores de jornalismo que ainda discutem a Teoria da Seringa Hipodérmica e profissionais que ainda conseguem distinguir jornalistas e "jornalistas" (a aspa serve para diferenciar os "profissionais" dos "amadores"). De uma discussão inexistente criou-se uma disputa radical sobre quem é dono do jornalismo do futuro. E enquanto se briga pelas sombras da caverna, perde-se de vista o realmente relevante - quais são os modelos de negócio e formatos do jornalismo de amanhã.
Um alerta: não há nada temporalmente novo aqui. Nem mesmo o exemplo abaixo é novo (completará um ano em maio). Decidi escrever sobre o assunto depois de ouvir um colega que trabalha na mídia impressa falar sobre as virtudes do impresso e a desgraça do jornalismo digital e também de ouvir uma acadêmica fazer o mesmo tipo de asserção preconceituosa.
Um perfil de um jornalista do site Business Insider feito pelo NYT no ano passado induz à discussão. Joe Wiesenthal a estrela da cobertura de mercados financeiros para o site, é apresentada pelo perfil como um workaholic obsessivo, que troca o dia pela noite, tuíta desgovernadamente e coloca em risco a própria saúde pela necessidade quase física de ser o primeiro a apontar o primeiro trend, noticiar primeiro o fato, alertar antes sobre um acontecimento futuro. Naturalmente - segundo a reportagem - o percentual de erro do jornalista é alto, mas a sensação geral é de que ele e o site (que faz uma espécie de tabloide para Wall Street), endossam a tese de que vale a pena errar com mais freqüência para dar a notícia primeiro. Apesar dos pesares, Wiesenthal é seguido por uma audiência de peso, como o Nobel de Economia e colunista do NYT, Paul Krugman.
Um acadêmico americano classificou Wiesenthal como patético, dizendo que ele não ensinava seus alunos a seguir aquele modelo, mas sim, o de acertar muito mais do que errar. O dono do Business Insider, Henry Blodget (um ex-analista de Wall Street que foi banido do mercado de ações americano por ter tentado 'bombar' ações durante a primeira bolha das ponto.com, no começo da década passada) escreveu um artigo desancando o professor da Tampa University, dizendo basicamente que ele não entendia o novo jornalismo digital e que estava fadado a ficar apegado a um modelo ultrapassado.
Enquanto as versões jornalísticas e acadêmicas da Brigada dos Mártires de al-Aqsa e do Shas continuam a brigar, princípios básicos do jornalismo  pela primeira vez em quinhentos anos deixaram de ser firmes e fazem com que os jornalistas passem a ter cada vez menos a confiança da sociedade com erros como os do El Pais no caso da publicação da foto de Hugo Chávez.
Hoje a produção de informação vive um impasse que parece estar exatamente no local que o capitalismo costuma chamar de falha de mercado. O processo de decomposição do jornalismo tradicional, suas formas de receita e seus protocolos de publicação não estão sendo compensados com a devida velocidade pelos novos formatos digitais. As causas dessa transformação passam longe da falta de boa vontade dos radicais de ambos os lados, mas sem eles, a transição só pode ser mais dolorosa e perigosa - não só para eles, mas para a sociedade como um todo.
É um erro achar que a fissura no mundo da informação começou com a era digital. A academia e a pesquisa em comunicação estão divorciadas da prática há décadas e o jornalismo tradicional também foi deteriorando seu maior patrimônio - a credibilidade - há muito tempo.A discussão sobre quem está certo ou errado tem tanto efeito quanto uma conversa de botequim porque as mudanças básicas às quais o jornalismo está sendo submetido ão irreversíveis. Em suma: o barco está afundando e todos estamos nele. Podemos escolher afundar com ele ou buscar uma saída. Por hora, a maioria esmagadora dos protagonistas do naufrágio ainda prefere só ficar se xingando.
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