O desafio do digital recuperar a credibilidade perdida pelo impresso
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Nov 28, 2012
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jornalismo
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O desafio do jornalismo digital em recuperar a credibilidade perdida pelo impresso - Gerações digitais questionam a veracidade dos grandes meios de comunicação e exigem alternativas para se informar sobre o cerne da sociedade.
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E um dia nossos pais (e alguns de nós, dependendo da idade) abriram os jornais e ligaram suas TVs para saber o que estava acontecendo no mundo. O que estivesse ali era verdade e ponto. Isso mudou.
Uma mecânica que durou pouco mais de um século transformou os jornais em negócios multimilionários e viu nascer as TVs já com a mesma vocação, a de gerarem receitas fantásticas aproveitando do fato de controlarem a informação que ia para a maioria esmagadora da população em praticamente todo o mundo. As novas gerações (ou os "millenials", nascidos de pouco antes a pouco depois da troca de milênio) não só não têm hábito de ler jornais. Eles acham que TV e jornais carregam somente "lixo e mentiras".
O texto de Jim Romenesko tem um título que sugere uma leitura de tabloide, mas não é exagero. Gerações nascidas sob a era da comunicação digital não acreditam cegamente no que reportam as grandes empresas de mídia. Essas empresas podem certamente agradecer às décadas de proximidade com governos e grupos econômicos que talharam seus modi operandi de gerenciar as operações noticiosas segundo padrões que atendessem não os interesses da população, mas sim, os interesses econômicos de seus proprietários. Sim, existem honrosas exceções dentro do jornalismo, como o New York Times, a BBC, o El Pais entre outros, mas falando de um modo geral, a credibilidade das grandes empresas foi corroída quando elas ainda eram onipotentes. Agora fala-se da culpa da revolução digital, mas isso é só coisa de mau perdedor.
Romenesko aponta um livro sobre o assunto que sugere um horizonte sombrio - o de que, no futuro, as pessoas podem não se interessar em notícias. O mesmo livro propões alternativas para gerar nas novas gerações o interesse em se informar - não só sobre a escória de entretenimento que meios de comunicação "sérios" estampam em suas capas numa desesperada tentativa de manter audiência - mas sobre o cerne da sociedade como um todo.
Há várias observações a serem feitas aqui. Algumas delas dizem respeito ao governo, políticas educacionais e econômicas, que são as que realmente fazem diferença em não formar analfabetos funcionais diplomados além de medidas que obriguem detentores de concessões governamentais a prestarem real serviço à população - do tipo fazer jornalismo de qualidade, produzir documentários, inserir educação social - e não só investir em lixo de grande audiência como reality shows, programas policiais sensacionalistas, game shows para debiloides e infindáveis mesas-redondas sobre futilidades.
Contudo, há uma segunda observação que não passa pelo governo praticamente em nenhuma medida. esta jaz no fato de que o cerne da indústria noticiosa (não só no Brasil) ainda não se deu conta da guinada necessária para se buscar essa geração divorciada do consumo de notícias. Nesse prisma é possível inserir muita coisa - fim do ciclo temporal de notícias, desaparecimento do hábito de se buscar a notícia (ela é que tem de buscar o consumidor), redesenho dos formatos de produção e empacotamento de conteúdo e dissociação da produção dentro das próprias empresas (porque mídias nascentes não vão salvar mídias terminais).
Há ainda (mas isso é assunto para outro post) a necessidade imperativa de se reiniciar o ensino do jornalismo (também no mundo todo, mas no Brasil, com o agravamento do redesenho precisar alcançar até a alfabetização falida). As escolas de jornalismo não formam mais jornalistas, mas sim técnicos, que por sua vez estão aprendendo as técnicas de uma indústria morta e enterrada. Some-se a isso o completo descompasso da pesquisa e do mercado, que insistem em ignorar um ao outro, numa atitude que só levará à morte de ambos abraçados.
O desafio das redações digitais e das empresas que pretendem cruzar a barreira de entrada do século XXII é o de desenvolver novas maneiras de engajar a audiência, repensar processos e formatos e tudo isso contando com profissionais que não sejam mais escravos de técnicas ultrapassadas. Claro, isso supondo que os problemas educacionais (leia-se, "analfabetismo funcional endêmico") tenha sido resolvido.