Despreparo para digitalização também atingiu o El Pais
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Dec 3, 2012
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demissão
crise
jornal
jornalistas
mudança
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Desemprego e falta de adaptação às novas mídias levam ao corte de funcionários no jornal El Pais.
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Post
Em Outubro, o diário espanhol El Pais, um dos maiores da Europa, anunciou uma demissão coletiva que atingiu quase 30% de seu expediente, sendo a maior que o jornal sofreu na história em uma única tacada. Não se trata de uma simples reestruturação do jornal. Com um desemprego que chega a 50% entre os jovens de 18-25 anos, o jornal enterrou a faca na carne para entrar no clima. "Não podemos continuar tão bem se queremos manter El Pais", afirmou o presidente do jornal aos funcionários . Contudo, o jornal vai pagar a conta pelo seu anacronismo - as dificuldades legais de contratação na Espanha fizeram a folha inchar, manter jornalistas improdutivos, que não lidam com novas mídias e que têm um custo médio alto (quase €90 mil anuais - muito para um meio que vem perdendo receitas. Mas as demissões tendem a não resolver a crise. Uma lição que a mídia brasileira pode aprender agora para crises futuras: a solução é adequar o meio às novas realidades.
Uma vez que as receitas ainda existem no mercado (ainda que menores), conclui-se (como já escrevi mais de uma vez aqui) que o problema dos jornais não é de receita - é de custos. Um administrador pode responder que uma coisa depende da outra, mas nesse caso, é uma meia verdade, porque também há uma mudança tecnológica que possibilita imensas economias aos jornais (quanto os jornais deixaram de gastar, por exemplo com comunicação e impressão, após as digitalizações de ambos)? O problema é que a diferença virou dividendos de ações dos grupos e não investimento em processo e treinamento. O resultado é que o corte de 30% tende a simplesmente criar uma sobrecarga de trabalho nos jornalistas no El Pais se ela não vier acompanhada da reestruturação necessária.
Essa mudança é citada neste post pelo jornalista Juan Varela. Ele aponta uma saída que, apesar de óbvia, não é enxergada pela maioria esmagadora das empresas. Não se trata de um corte de gastos. A mudança não passa por uma avaliação do departamento de recursos humanos, mostrando quem produz ou não, mas sim a manufatura de um novo plano de negócio - e um que não seja um apêndice da estrutura atual, mas sim uma alteração no DNA da empresa, uma vez que o ambiente noticioso sofreu uma mutação do gênero. Qualquer coisa longe disso é uma tentativa de se curar uma infecção generalizada com um chá de ervas.
No caso de uma publicação tão emblemática quando o diário espanhol, cabe uma reflexão sobre o que representaria a falência de um jornal do gênero. Para o mundo, seria uma perda relevante, mas para a Espanha seria uma catástrofe. Centenas de milhares de leitores perderiam uma referência e todo o jornalismo espanhol, que orbita ao redor do título. Após o golpe, o meio noticioso espanhol se recuperaria - fato que levanta dúvidas na maioria dos jornalistas, desconfiados da participação do público, mídias sociais e afins.
Mudanças do gênero são necessárias ao redor do mundo, embora algumas - as que se referem aos títulos mais importantes - tenham também uma relevância social (retomando, imagine o que significa o El Pais para a Espanha). As empresas têm como fazer as alteracões que precisam. Então, por que as mudanças não acontecem? Na maioria dos casos, porque requerem que se mexa nos interesses de algumas classes e indivíduos, os quais são quem realmente manda nessas empresas. E fazer mudanças mexendo com os interesses de quem manda, ISSO sim é difícil.