Mídias tradicionais não entendem gostam nem aceitam revolução digital
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Dec 13, 2011
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mídias tradicionais
revolução digital
indústria de mídia
mídias sociais
grupos de mídia
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Mídias tradicionais resistem e não compreendem a revolução digital, impactando o futuro da indústria de mídia.
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Não foram pessoas quaisquer. Longe disso. Maurice Levy é o Like a Boss da Publicis, uma das três maiores receitas de publicidade do mundo (€850 milhões de lucro no ano passado). Outro, é o chefão da WPP, gigante de mídia cuja lista de propriedades não cabe em uma centena de linhas. Eles, além de vários outros, revelaram a uma matéria da Reuters uma aversão assumida às mídias sociais. Não seria problema nenhum - mídias sociais podem ser bastante sacais dependendo do critério que você teve ao montar sua rede de contatos. Mas como esses executivos comandam a maior parte da receita de mídia no mundo, adiciona mais uma peça no quebra-cabeças das razões pelas quais os grandes grupos de mídia brigam tanto com a entrada no mundo digital.
Coloque-se na posição de um executivo de sucesso na casa dos 60 anos que de repente se vê às voltas com o excesso de interação das mídias sociais. Não condeno nem em sonho que eles não tenham saco para a ansiedade da informação descrita por Richar Wurman. Contudo, eles têm um sério handicap na timeline evolutiva da mídia. Porque sempre fizeram o que queriam, dado o poder infinito dos old media, acham possível desafiar a integração digital. Como não têm mais paciência para novidades, não compreendem que não há o que fazer. O cometa digital está em curso com o planeta das velhas mídias e o choque será explosivo, duro e dramático. Melhor: já está sendo. Há saída?
Sem a queda do Ancient Régime, não. O modelo de negócios estabelecido hoje, que envolve as megacorporações de mídia, a política de poder dentro dessas companhias, a proximidade incestuosa com o poder do Estado e dos anunciantes, ou, mais incestuosa ainda, das tradicionais agências de propaganda, as relacões de trabalho, o modus operandi das redações, os ciclos de notícias, a divisão interna das companhias para uma divisão não agredir outra (exemplo: o site não tirar público da TV), a relação com a audiência (e a participação dela). Tudo está sofrendo um processo de mudança nos alicerces e não basta uma pequena adequação burocrática para ajeitar. Empresas têm gasto centenas de milhões de reais em investimento em suas divisões digitais (como ocorreu com um grande e importante grupo brasileiro nos últimos anos), mas não têm sucesso porque suas estruturas hierárquicas não querem nenhuma mudança que tire o poder dos atuais detentores - que são como os barões de grupos como WPP, Publicis e Hachette, citados na matéria da Reuters.
Não vai dar certo. A troca de geração, desta vez, não é simplesmente a substituição de pai por filho, mas uma alteração mais profunda. Ainda numa menção à Revolução Francesa, existe uma casta que vê seu poder escoar pelas mãos e está aumentando a pressão para continuar a tê-lo, mas o processo é impossível de ser parado ou revertido. Todos os períodos com troca de paradigma são traumáticos e esse também o será, como bem observou um amigo meu, excepcional jornalista. As respostas sobre como o novo cenário será serão dadas aos poucos e quem procurar por elas terá vantagens no fim. Quem tentar parar a história, terá o proceso com um "extra" de trauma, além do já agendado.